Frequentes no noticiário em 2023, os registros das chamadas ondas de calor aumentaram 642% nos últimos 60 anos no país, conforme uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que busca entender como o clima no país está mudando.

Feito a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o levantamento aborda as tendências nos episódios de chuva, calor e umidade. Os cálculos foram feitos para todo o território brasileiro e consideram o período de 1961 a 2020.

Os pesquisadores estabeleceram os anos de 1961 a 1990 como período de referência, e efetuaram análises segmentadas sobre o que aconteceu com o clima para três períodos: 1991-2000, 2001-2010 e 2011-2020.

Os dados indicam que houve um aumento gradual dos episódios de ondas de calor ao longo dos períodos analisados em praticamente todo o Brasil.

No período de referência, o número de dias com temperaturas acima do normal não ultrapassava sete. Entre 1991 e 2000, esse valor subiu para 20 dias. Para o período de 2001-2010, atingiu 40 dias; e de 2011 a 2020, o número de dias com ondas de calor chegou a 52 dias.

Caracteriza-se como onda de calor o mínimo 6 dias consecutivos em que a temperatura máxima superou um limiar de ao menos 10% do que é considerado extremo, comparado ao período de referência.

Entre 1991 e 2000, as temperaturas máximas acima da média não ultrapassavam 1,5°C. Porém, atingiram 3°C em alguns locais para o período de 2011 a 2020, especialmente na região Nordeste.

No período de referência, a média de temperatura máxima no Nordeste era de 30,7°C e subiu, gradualmente, para 31,2°C entre 1991 e 2000, 31,6°C entre 2001 e 2010 e 32,2°C entre 2011 e 2020.

“Essas informações são a fonte que podemos reportar como fidedignas daquilo que está sendo sentido no dia a dia da sociedade. São dados relevantes para fazer a ciência climática dar suporte à tomada de decisão”, afirmou o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do MCTI, Osvaldo Moraes.

O estudo também indica que houve uma variação inversa do acumulado de chuvas nas regiões Nordeste e Sul entre 2011 e 2020.

Enquanto houve queda na taxa média de precipitação, com variações entre –10% e –40% do Nordeste até o Sudeste e na região central do Brasil, foi constatado um aumento entre 10% e 30% na área que abrange os estados da região Sul e parte dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Outro dado trazido pela pesquisa é a constatação de que a região Sul vem sendo a mais afetada pelas chuvas extremas ao longo das últimas décadas. No período de referência, a precipitação máxima em cinco dias era de cerca de 140 mm, número que subiu para uma média de 160mm.

De acordo com a conclusão dos pesquisadores, o clima já está mudando e afeta o país de múltiplas formas. Enquanto em algumas regiões há aumento de temperatura, em outras observa-se aumento da precipitação ou ocorrência de seca.

“O mais recente relatório do IPCC destacou que as mudanças climáticas estão impactando diversas regiões do mundo de maneiras distintas. Nossas análises revelam claramente que o Brasil já experimenta essas transformações, evidenciadas pelo aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos em várias regiões desde 1961 e irão se agravar nas próximas décadas proporcionalmente ao aquecimento global”, afirma o pesquisador do Inpe Lincoln Alves, que coordenou os estudos.

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