O boi-bumbá Garantido é o campeão da 54º Festival de Parintins. O boi da Baixa do São José venceu a segunda e a terceira noite do festival folclórico – e empatou a primeira. A apuração das notas dos jurados foi realizada na tarde desta segunda-feira (1º), na ilha localizada a 369 km de Manaus. Este é o 32º título da história do Garantido.

Com o tema “Nós, O Povo”, o boi-bumbá Garantido, que defende as cores vermelho e branco, defendeu na arena as lutas, as alegrias e a liberdade do povo brasileiro. Cada subtema foi desenvolvido nas três noites do festival folclórico.

Na primeira noite do festival, a última sexta-feira (28), o bumbá exaltou as adversidades com o subtema “O Boi das Lutas do Povo” ao falar das lutas pelo folclore.Durante a apresentação, o Garantido surgiu na galera – torcida – para dar início à festa. Logo, a cunhã-poranga – nome dado à índia mais bonita da tribo – completou o cenário.

A segunda noite de festival, que deu sorte para a vitória, carregou o subtema “Garantido, o boi da alegria do povo”. O bumbá iniciou sua apresentação com bela homenagem a São João, a quem o fundador do boi, Lindolfo Monteverde, fez promessa que motiva o bumbá até hoje. O santo foi tema da primeira alegoria do “boi vermelho”, que revelou ainda a sinhazinha, a rainha do folclore e o amo do boi.

Macacos gigantes em batalha contra um guerreiro Karajá retrataram a lenda amazônica. A luta foi vencida pelo guerreiro somente com a ajuda de flechas serpentes, que libertaram a cunhã-poranga – nome dado à índia mais bonita da tribo – no centro da alegoria.

As mulheres erveiras, que mantém a tradição de cura por meio de ervas medicinais, foram exaltadas e serviram de figura típica para o Garantido. Deste âmbito surgiu então a portaestandarte.

Para o momento tribal, o Garantido mostrou na arena tribos indígenas comandadas pelos tuxauas. Posteriormente, um ritual da tribo Mura que prepara jovens guerreiros – coordenados pelo pajé – encerrou a apresentação do “boi vermelho”.

Com o subtema “o Boi da Liberdade do Povo”, mostrou em sua despedida um garantido histórico e engajado na luta pelo povo, fazendo belo uso do folclore como bandeira de luta do povo brasileiro pelo direito de se viver quem é. “Pelo fim da violência, do machismo e da homofobia”.

O “boi encarnado” fez um clamor pela liberdade, que esteve presente na cerimônia das místicas tribais. Fez ainda homengaem ao cabloco amazônico na luta diária pela subsistência e resgatou bem as memórias do fundador Lindolfo Monteverde, como de praxe.

Exaltando a cultura, a liberdade folclórica e a tomada cultural que move o festival, o boi celebrou os “Sonhos de Liberdade” ao resgatar memórias de “Dona Xanda”, mãe do terreiro histórico da Baixa do São José – casa do Garantido. A Sinhazinha surgiu após bela apresentação da vaqueirada em interação com o amo do boi ao convidar Garantido a descer à arena.

Ponto alto da noite foi a performance da lenda amazônica “Wadye, Devorador de Cunhça”. Em grande noite, a cunhã-porganga Isabelle Nogueira venceu combate o sobrenatural e agraciou a galera com a comemoração.

Em um dos pontos mais emocionantes do festival o levantador Sebastião Júnior levou o público aos prantos – junto com o seu próprio – ao personar um belíssimo dueto com Márcia Siqueira ao puxar a toada “Rosas Vermelhas”. A canção pede fim da violência e levanta bandeiras contra a homofobia e o machismo, além de exaltar a igualdade de gêneros.

Para selar a já grandiosa noite, o Garantido entregou ao público a execução do ritual “Palikur, o Triunfo da Luz”, orquestrado impecavelmente pelo estreante pajé Adriano Paketá. Com tempo de sobra, o bumbá vermelho brincou de boi por longos minutos ao fim da apresentação. Era um bom presságio das comissões.

Caprichoso

“Do Caos à Utopia”. Essa foi narrativa do espetáculo apresentado pelo Boi Caprichoso na primeira noite, que abriu a ode à “Mátria Brasilis”. Sob os olhares mais apaixonados de sua galera, a alegoria de abertura do bumbá destacou a divindade mítica do povo Dessana, chamada “Yêba, a deusa Brasilis”.

A porta-estandarte surgiu na festa enquanto o boi evoluía junto à galera. Na lenda amazônica “mura-pirahã, houve celebração com preces de esperança. Logo surgiu a cunhã-poranga.

Barcas da exaltação folclórica transformam o cenário da arena no Brasil colônia, revelando o Amo do Boi e a sinhazinha da fazenda.

A vaqueirada trouxe o “Auto do boi”. O mateiro, herdeiro dos saberes tradicionais, foi representado na figura típica regional que, em seguida, trouxe a rainha do folclore.

A noite teve, ainda, o ritual indígena do povo Yanomami – a cura da terra, de onde o pajé é levado para o mundo sobrenatural. Através de rezas e canções, ele cura a “mãe terra” de degradações do homem branco.

“Nos braseiros da fé, esperança é minha luz”

A alegoria “As mátrias da fé brasileira”, que representou três matrizes culturais, foi o ponto de partida da apresentação do Caprichoso na segunda noite, que trouxe o subtema “Nos braseiros da fé, esperança é minha luz”. Foi ela que revelou o amo do boi e a porta estandarte.

Para simbolizar a figura típica regional, entrou em cena caboclo sacaca da floresta – um tipo de médico – que realiza curas, espanta maus espíritos, mas que também é afetado pelas políticas públicas. Deste cenário, surgiram os tuxauas.

A relação entre o estado do Maranhão e a cidade de Parintins compôs a celebração folclórica do boi, envolta em encantamento entre o Caprichoso e o Encantado – que foram destaques – juntamente com a sinhazinha da fazenda.

Uma lenda que se inicia com a fuga de três princesas da Turquia também foi apresentada. Elas cruzam os portais do mundo encantado de Aruanda e despertam na foz do Rio Amazonas, onde surge também a rainha do folclore.

O momento tribal foi simbolizado pela fé nas Caruanas, entidades de cura que vivem nas águas da Amazônia. Para finalizar a apresentação, o Caprichoso trouxe o ritual Kalankó, onde o pajé representou a luta pela reconquista territorial e de identidade dos povos indígenas do Nordeste.

“O Brasil que a gente quer reinventar”

O boi da Francesa encerrou a noite de apresentações do último dia de festa. Com o enredo “O Brasil que a gente quer reinventar” levantou a bandeira da esperança, arte e fé.

Fazendo belo uso de hinos da música popular brasileira, o boi preto fez ode a Chico Buarque e Milton Nascimento ao declamar os clássicos “Deus lhe pague” e “Nos Bailes da Vida”.

O boi usou todo seu espetáculo para jogar luz à intolerância no país e questões sociais atuais em pauta. Um dos pontos altos ocorreu quando todos os componenntes entraram emcapuzados ao som de hip hop. O “boi azul” ainda fez homenagem às lavadeiras e à padroeira de Parintins, Nossa Senhora do Carmo.

Momento dos mais belos na arena tocou a alma de cada um da galera que foi agraciado com a entoação de “Matriarca”. Ela foi a trilha sonora para o momento em que o estandarte de Marcela Marialva exibiu a faixa “Paz no Brasil”, solta aos céus e carregada por balões brancos.

Com informações do G1

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