Lambes e brincadeira com papagaio viram arte urbana em oficina gratuita

O evento marca etapa de projeto que documenta a prática em bairros periféricos de Manaus

0
7

No próximo domingo, 20 de julho, às 16h, será realizada uma oficina de lambe-lambe na Praça Mindu Norte (próximo ao Comercial Gavião), no bairro Novo Aleixo, Zona Norte de Manaus.

A atividade é gratuita, aberta a pessoas de todas as idades, e tem como foco principal crianças e adolescentes que brincam de papagaio no pipódromo da região.

A ação integra a contrapartida do projeto De Cara Pro Céu, idealizado pelo fotógrafo e pesquisador de Antropologia Visual, Alonso Junior, que registrou, ao longo dos últimos três anos, a prática de empinar papagaio nas zonas periféricas da cidade.

A oficina será conduzida pela poeta Paloma Silva, do projeto Poetisa.te, e pelo artista visual Rafael Antônio, do coletivo Maniwara.

Durante a atividade, os participantes irão conhecer a técnica de lambe-lambe, manusear imagens e criar, juntos, um painel visual a ser colado em um dos muros da praça.

“Queremos que as crianças se reconheçam nesse território e na brincadeira que é delas. A proposta é que elas não só participem da colagem, mas também ajudem a construir o mural com imagens que representam suas vivências”, afirma Alonso.

Documentar o céu e o chão das periferias

De Cara Pro Céu foi realizado com base em uma pesquisa iniciada em 2022, quando Alonso começou a registrar os pipódromos improvisados de Manaus.

Ele percorreu as zonas norte, leste, oeste, centro-oeste e centro-sul da cidade, mergulhando nas rotinas dos brincantes e documentando as relações sociais em torno da prática de soltar papagaio.

Foram dez meses de campo, com dois meses dedicados a cada zona. Entre os locais registrados estão a Arena LV, no Lírio do Vale; a balsa do São Raimundo; a Avenida Borba; e a Arena Banana, espaço próximo ao Estádio Vivaldo Lima, que recebeu esse nome em homenagem a um antigo brincante da área.

“Esses espaços são campos de encontro. A pipa é o motivo, mas o que acontece ali vai muito além: tem troca, tem respeito, tem comunidade”, diz Alonso.

A pesquisa também levantou dados quantitativos, como faixa etária dos participantes, número estimado de brincantes por zona, localização dos pipódromos e presença de vendedores e fabricantes de papagaios.

Foram registradas ainda diferenças estruturais entre os locais apropriados e os mais precarizados para a atividade.

Fotografia como documento e afeto

Inspirado em autores como Clifford Geertz e Bronisław Malinowski, Alonso combinou o olhar da Antropologia Visual com a fotografia documental. Ao longo do processo, construiu uma narrativa composta por cerca de 80 imagens que evidenciam aspectos sociais, políticos e geográficos da brincadeira.

“A câmera foi minha ponte para me aproximar. Antes de fotografar, eu passava dias voltando ao mesmo local, conversando com as pessoas, ganhando confiança. A imagem vem depois do vínculo”, relata.

O projeto resultará futuramente em um fotolivro, que reunirá o acervo produzido ao longo da pesquisa.

Nesta primeira fase, o foco foi a ampliação do registro visual e o mapeamento dos espaços e a comunidade envolvida na prática de empinar papagaio nas periferias de Manaus.

Lambes espalhados pelos territórios

Além da oficina, o projeto inclui a colagem de lambes com fotografias nos cinco territórios visitados.

“A ideia é devolver essas imagens para os lugares onde elas foram feitas, criando uma conexão entre o registro e o espaço”, afirma Alonso.

As colagens serão realizadas nas regiões visitadas por Alonso. Para o fotógrafo, a ação busca fortalecer o pertencimento dos moradores e valorizar suas vivências.

“Temos muita potência nesses territórios. A fotografia pode ser um meio de devolução simbólica, de reconhecimento e de valorização de quem está ali todos os dias olhando para o céu”, conclui.

O projeto foi contemplado pelo Edital de N° 07/2023 da Lei Paulo Gustavo, de Chamamento Público às Artes e Cultura, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC/AM).

FOTO: Alonso Júnior

Deixe uma reposta

Por favor deixe seu comentário
Digite seu nome