Socioeducandos participam de rap sobre igualdade e oportunidade com MC amazonense

Iniciativa reforça a ressocialização dos jovens por meio da arte

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A música muda vidas. A frase pode parecer clichê para muitos, mas para os adolescentes em privação de liberdade do Centro Socioeducativo Dagmar Feitoza, pode ser o primeiro passo para uma nova realidade. Seis socioeducandos, com o apoio do compositor amazonense MC DaCota e DJ Alan, tiveram uma participação especial na criação do “Set do Dagmar”, falando do processo de ressocialização, da vida na periferia, dos sonhos e de um futuro de oportunidades.

A música é fruto do projeto “Ensina-me a sonhar”, uma parceria da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc) com a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM). A parceria entre as instituições promove ações afirmativas que contribuem com o desenvolvimento social de socioeducandos.

Através de atividades e palestras educativas, a parceria começou com a ida do MC DaCota ao Centro para contar de sua vivência e se aproximar dos socioeducandos. Ao ver o potencial dos adolescentes e o desejo de mudança que eles têm, a composição começou a ganhar forma.

De acordo com o idealizador do projeto musical, o MC DaCota, em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA) do Amazonas, a música foi a realização de um sonho pessoal, uma vez que ele vê o Rap como forma de estudo, um trabalho por trás da imagem e da produção musical. 

“Para mim, isso é Rap, as pessoas falam muito sobre ensinar a sonhar, mas não falam sobre devolver esse sonho e através da música foi devolvido. Acredito que o Rap vai trazer a ressocialização para eles de forma significativa e grandiosa. Eles tiveram a noção de que é muito mais leve carregar um microfone que uma arma, foi isso que eu quis passar”, comentou.

“Quem vive na cultura do Hip-Hop e do Rap, sabe que ele salva vidas, pois muitos não têm pai e a música é esse ‘pai’. Ele está ali para ensinar o certo. Ele ensina o que é cultura, postura e posicionamento político”, acrescentou o cantor.

Cantando suas experiências de vida, os seis socioeducandos participaram da criação e composição do Trap – um subgênero do Rap que se caracteriza por batidas pesadas e lentas, uso de sintetizadores e letras sobre temas urbanos -, reforçando momentos de erro, perdão e como estão usando o tempo de ressocialização para aproveitar as oportunidades na educação, arte, cultura e, assim, ter um futuro diferente quando saírem do Centro Socioeducativo.

“Eu lembro que brincava descalço na rua, me sentia à vontade, mas agora olha só onde eu estou, privado de liberdade… A minha vida não acaba aqui, quando eu sair vou estar de boa… Essa vida de adrenalina eu não quero voltar”, canta um dos adolescentes em um trecho da música.

Gravada no estúdio Fly Produções e lançada pela produtora 130 Music, em parceria com a CUFA, a música está disponível nas plataformas Spotify e YouTube, em breve no Deezer e Apple Music.

A secretária titular da Sejusc, Jussara Pedrosa, reforça que a ressocialização é preconizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e tem a arte e a cultura como um de seus pilares.

“Frisamos sempre que a pessoa não pode ser reduzida a um erro e que a Sejusc é um agente de transformação e ressocialização desses jovens. Ver que eles estão usando seu tempo em algo produtivo e notório é muito satisfatório”, destaca Jussara.

Visibilidade Nacional

O ator, rapper e cantor brasileiro, Geizon Carlos, mais conhecido como Xamã, recomenda o “Set do Dagmar”. Feliz com a iniciativa, ele reforçou como a arte é um meio de cura na sociedade e como ela foi fundamental para sua mudança de vida.

“A arte cura, a arte salva. O que me salvou foi o meu rap, a minha música, eu vendia bala no trem, no sinal, e graças ao rap eu fui politizado, eu consegui ter um emprego, dar um emprego para minha família e outras pessoas”, comentou.

Xamã ainda anunciou que logo estará em Manaus e que quer conhecer os socioeducandos. “Em breve estou colando aí para conhecer vocês, falar um pouco de música e cinema. Fé em Deus sempre, um beijo e estamos juntos”, disse o artista.

Ensina-me a sonhar

O projeto “Ensina-me a sonhar” realiza, desde 2017, ações com o propósito de possibilitar novas perspectivas para a vida pessoal e profissional de jovens que cumprem medidas socioeducativas no Amazonas. Atualmente, os jovens também passam pelo incentivo psicossocial, de forma que reduza a reincidência e possibilite a construção de novas oportunidades.

Foto: Lincoln Ferreira/Sejusc

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