No município de Rio Preto da Eva (a 57 quilômetros de Manaus), Marlene dos Santos, da etnia Baniwa, produz cestarias a partir da matéria-prima do arumã, uma planta que cresce em regiões semi-alagadas. Neste mês, o artesanato produzido por indígenas, que fazem parte do Programa do Artesanato Amazonense (PAA), do Governo do Amazonas, será exposto na maior feira internacional de artesanato da América Latina, a Expoartesanías 2024, realizada em Bogotá, na Colômbia, de 4 a 17 de dezembro.
O Amazonas será representado por cinco artesãs indígenas na feira internacional, celebrando um momento histórico com o lançamento do catálogo de artesões da terra. Dessas representantes, três moram em Manaus, uma em São Gabriel da Cachoeira e outra em Careiro Castanho. Para Marlene dos Santos, ter a obra de parentes (como chamam outros indígenas) selecionadas para o catálogo representa uma vitória para todos que trabalham com o artesanato.
“Trabalhar com isso [artesanato] representa que estamos preservando nossa cultura e ancestralidade. É um pouco complicado, porque já vivemos no meio da cidade, mas estamos aqui passando nossa tradição de geração a geração. Estamos conseguindo mostrar não só o nosso trabalho, mas permitindo que as pessoas conheçam nossa cultura”, falou a artesã Marlene dos Santos.
O artesanato indígena é vivenciado e passado de geração a geração, como explica Marlene. Na família dela, a matriarca, de 101 anos, foi quem ensinou a confecção de cestarias com a folha do arumã. O processo começa com a procura da matéria-prima, geralmente em áreas semi-alagadas, perto de rios e nascentes. Depois da coleta, o material é levado para uma área ventilada para secar. Só depois de totalmente secas, as folhas começam a ser confeccionadas pela família.
O processo criativo é o que demanda mais tempo, pois depende das técnicas utilizadas por cada pessoa da família. Uma peça de produção totalmente artesanal demora, em média, 7 dias para ficar pronta. Com a exposição na feira internacional, a expectativa é que a arte dos povos originários seja ainda mais valorizada, como aponta Marlene dos Santos.
“A gente trabalha com muita dedicação. Cada peça é trabalhada nos detalhes e a gente passa um bom tempo trabalhando nelas e pensando nas pessoas que vão receber as peças”, completou.
Incentivo
O Programa do Artesanato Amazonense (PAA), iniciativa conduzida pela Secretaria Executiva do Trabalho e Empreendedorismo (Setemp), órgão da Secretaria Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), tem como missão valorizar e fomentar o trabalho dos artesãos amazonenses.
Na Expoartesanías, em Bogotá, capital da Colômbia, o Programa do Artesanato Amazonense celebra um momento histórico com o lançamento de seu catálogo, resultado dos laboratórios técnicos, parceria entre o Governo Estadual por meio da Setemp/Sedecti e o Governo Federal, por meio do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), inspirados nos reconhecidos modelos colombianos de inovação.
Esses laboratórios foram desenvolvidos para capacitar artesãos, promovendo técnicas sustentáveis, valorização dos recursos naturais e aprimoramento de produtos para competir em mercados nacionais e internacionais.
Essa iniciativa não apenas eleva a visibilidade dos artesãos amazonenses, mas também fortalece os laços entre Brasil e Colômbia, promovendo a troca de conhecimentos e o desenvolvimento econômico de ambas as regiões. A feira se torna um espaço para celebrar a criatividade e a tradição, demonstrando ao mundo a força transformadora do artesanato como vetor de desenvolvimento sustentável.
Expoartesanías
A Expoartesanías é uma feira de artesanato latino-americana que promove a divulgação e preservação do artesanato tradicional latino-americano. Durante a feira, são exibidos os trabalhos dos artesãos, que representam as diversas culturas e tradições de diferentes regiões e países.
FOTO: Mauro Neto/Secom