A poucas semanas do início da COP-30, com o tema “Conectando saberes para a ciência com impacto na Amazônia – Diálogo nórdico-brasileiro rumo à COP-30 e além”, evento reúne pesquisadores brasileiros e europeus para promover pesquisas mais impactantes na Amazônia, por meio da cooperação e cocriação responsáveis e inclusivas entre diversas áreas de pesquisa e atores locais. O encontro iniciou, nesta quarta-feira (22/10), com o apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
A atividade é realizada em parceria com o Consulado da Finlândia, em São Paulo, com as Embaixadas da Suécia e da Noruega, em Brasília, Iniciativa Amazônia+10, Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), e financiamento do Nordic Embassy Cooperation Programme (NEP). O evento iniciou nesta quarta-feira (22/10) e segue até amanhã, 23/10, no Auditório Deputado Belarmino Lins, na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), no bairro Parque 10 de Novembro, zona centro-sul de Manaus.
Para a diretora-presidente da Fapeam, Márcia Perales Mendes Silva, o evento é uma excelente oportunidade de trazer para o diálogo e abrir oportunidades de novas parcerias com instituições nacionais e internacionais importantes para o fomento a pesquisa básica e aplicada na Amazônia.
“Estamos recebendo representantes de embaixadas, instituições e pesquisadores da Finlândia, da Noruega e da Suécia, para socializarmos as ações desenvolvidas em CT&I voltadas para a Amazônia e, com isso, estabelecemos novas parcerias, novas conexões e novos diálogos com pesquisadores de outros países”, comentou Márcia Perales.
Durante a abertura do evento, ela reforçou a importância da integração das ações em pesquisa na Amazônia, como um dos principais desafios a serem debatidos, e enfatizou a relevância do momento para a cocriação e cooperação entre os participantes para ações conjuntas no futuro.
“O mais importante disso tudo é lembrar sempre que em um estado como o Amazonas, que preserva 97% da sua floresta tropical, abaixo da copa das árvores vivem pessoas. E um dos principais desafios é fazer com que essas pessoas, comunidades tradicionais, ribeirinhos, pescadores, quilombolas, tenham qualidade de vida”, destacou a diretora-presidente da Fapeam.
Para Rafael Andery, secretário-executivo da Iniciativa Amazônia+10, a intenção é que o evento promova a interação entre as partes envolvidas, conexão de saberes e, consequentemente, a expansão do conhecimento sobre a Amazônia e para além disso, com foco na cocriação com conhecimentos tradicionais.
“A intenção é também trazer pesquisadores indígenas, conhecedores indígenas e de comunidades tradicionais para o debate. A ideia é que essas conexões que vão se formando aqui entre os pesquisadores de lugares diferentes, depois possam evoluir para projetos e parcerias maiores com outros países”, enfatizou.
A conselheira de Educação Superior e Ciência do Consulado da Finlândia em São Paulo, Johanna Kivimäki, destacou a importância da cooperação entre países por meio de pesquisas na Amazônia.
“Esse evento é uma oportunidade de unir os pesquisadores nórdicos com pesquisadores brasileiros em diferentes áreas de pesquisa. Nós temos muitos valores em comum. Nos países nórdicos, falamos da igualdade, da natureza, questões de clima, tudo isso está muito no coração dos nossos valores. O evento é uma oportunidade de fortalecer essas colaborações entre Suécia, Noruega, Finlândia e Brasil”, comentou Johanna Kivimäki.
Para Patrick Reurink, conselheiro de Ciência, Tecnologia e Educação, Team Norway, da Embaixada da Noruega, a principal cooperação do país com o Brasil é sobre o meio ambiente.
“A nova estratégia norueguesa para o Brasil prioriza o clima e o meio ambiente, incluindo a biodiversidade e a Amazônia. A Noruega apoia financeiramente iniciativas como a Norway’s International Climate and Forest Initiative (NICFI) e colaborações multilaterais na Amazônia”, destacou Patrick Reurink.
Mesa de abertura
Participaram da mesa de abertura: a diretora-presidente da Fapeam, Márcia Perales Mendes Silva, a Conselheira de Educação Superior e Ciência do Consulado da Finlândia em São Paulo, Johanna Kivimäki, a Consultora Sênior do Escritório de Ciência e Inovação da Embaixada da Suécia, Ana Carolina Bussacos, o Conselheiro de Ciência, Tecnologia e Educação, Team Norway, da Embaixada de Noruega, Patrick Reurink e o Secretário-Executivo da Iniciativa Amazônia+10, Rafael Andery.
E também: a Diretora Executiva de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa, Ana Euler, a Cônsul Honorária do Reino da Suécia no Amazonas, Acre, Rondônia e Pará e Reitora da Universidade Nilton Lins, Gisélle Lins Maranhão, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), Henrique dos Santos Pereira, e a Diretora do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), Stefanie Costa Pinto Lopes.
Povos originários
Na abertura do evento ocorreram duas palestras. O doutor em Antropologia Social, João Paulo Lima Barreto, da etnia Tukano, pesquisador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) ministrou a palestra sobre “O sistema de conhecimento indígena frente aos desafios do desequilíbrio do mundo terrestre” e destacou que os povos originários estão habitando a Amazônia há mais de 2 mil anos, deixando o território intacto e contribuindo muito com a ciência.
“Compartilhamos um pouco sobre o sistema de conhecimentos indígenas, nós habitamos nesse território há dois mil anos, manejando a terra, a floresta, os rios e mantendo os nossos territórios intactos. Nós queremos agora participar diretamente dessa discussão, porque estamos diante de crises climáticas e isso está afetando todo mundo. Diante desse quadro dramático que a gente está vivendo, nós precisamos conhecer como podemos, juntos, buscar soluções e caminhar juntos, dialogando sempre nas diferenças”, ressaltou João Paulo.
A doutora em Educação, Hanna Guttorm, da Universidade de Helsinque também palestrou sobre a “Indigenização da Academia e das discussões de Sustentabilidade”. Na oportunidade, de seu projeto e da importância da escuta e da compreensão dos ritos e cultura dos povos originários. “A gente está vivendo em um mundo em crise, mas ainda temos tempo de fazer algo. Temos a possibilidade de aprender, de praticar e de valorizar esse lugar sagrado”, refletiu Hanna Guttorm.
Sessões interativas e Grupos de Trabalho
Durante os dois dias de evento, os participantes se dividem em grupos de trabalho para discutir temas como a crise climática, a biodiversidade e o impacto dos resultados de pesquisas nas políticas públicas e negócios sustentáveis.
No primeiro dia de diálogos, a Sessão Interativa debateu: “Pesquisa e inovação para a conservação da biodiversidade, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, transformações sociais, bem-estar e desenvolvimento econômico na Amazônia”. E ainda contou com Grupos de Trabalho paralelos e multidisciplinares, que apresentaram e discutiram sobre casos de pesquisa e inovação em diferentes áreas do conhecimento.
Além disso, os representantes das agências de fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I): Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Iniciativa Amazônia +10/Fapesp, Conselho de Pesquisa da Finlândia, Escritório Innovation Norway/Conselho de Pesquisa da Noruega no Brasil, Escritório de Ciência e Inovação da Embaixada da Suécia no Brasil, e Delegação da União Europeia no Brasil. debateram estratégias e boas práticas para aumentar o impacto dos resultados da pesquisa nas políticas públicas e nos negócios sustentáveis.
Todos os Grupos de Trabalho foram instruídos a responder a um conjunto específico de perguntas que serão levadas para a sessão plenária.
Iniciativa Amazônia+10
A Iniciativa Amazônia+10 é um Programa de fomento à pesquisa, em parceria com o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No Amazonas, a chamada é executada pelo Governo do Amazonas, via Fapeam.
O Programa tem o objetivo de apoiar pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico em instituições de ensino e pesquisa e em empresas sobre os problemas atuais da Amazônia, que tenham como foco o estreitamento das interações natureza-sociedade para um desenvolvimento sustentável e inclusivo da região amazônica.
Entre as linhas temáticas, estão: Territórios como infraestrutura e logísticas que facilitam o desenvolvimento sustentável em dimensão multiescalar; Povos da Amazônia como protagonistas do conhecimento e da valorização da biodiversidade e adaptação às mudanças climáticas; e Fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis pelos amazônidas.
FOTO: Ayrton Lopes