Mais de 25 mil filhotes de quelônios são devolvidos à natureza na RDS do Uatumã

Unidade de Conservação gerida pela Sema realiza projeto de monitoramento desde 2002

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Mais de 25 mil filhotes de quelônios foram soltos na natureza, no domingo (25/02), por moradores da comunidade da Enseada, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã. A soltura é fruto de um trabalho de monitoramento e conservação das espécies, desenvolvido na Unidade de Conservação (UC), com apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), há 22 anos.

“A Sema apoia o projeto em nove comunidades na RDS Uatumã, sendo a comunidade da Enseada uma delas. Apoiamos desde a coleta até a soltura, trazendo insumos, gasolina, isopor, capacitação para os monitores, trazendo a ração para os filhotes e, também, fazendo a soltura, que é o evento que vem coroar todo o trabalho feito”, disse o gestor da UC, Cristiano Gonçalves.

A soltura dos filhotes é a etapa final de um longo trabalho de coleta dos ovos, que começa ainda em setembro do ano anterior e segue até o mês de dezembro. Durante esse período, moradores da comunidade da Enseada se dividiram em equipes para percorrer as praias que rodeiam todo o Lago do Jaraoacá, em busca das covas onde os quelônios realizam a desova.

O trabalho de busca e coleta é diário, com início ainda pela madrugada, até o final da manhã. Os ovos encontrados são transferidos para um espaço chamado de “chocadeira”, que imita o ambiente de praia onde foram originalmente depositados. Desta forma, os ovos ficam seguros, longe de predadores e do risco da caça ilegal, até a sua eclosão.

“Nessa comunidade, no ano passado, foram soltos aproximadamente 20 mil filhotes. Este ano nós conseguimos soltar mais de 25 mil. Mesmo com toda a dificuldade que tivemos na estiagem, a comunidade se envolveu e conseguiu ter êxito no projeto”, completou o gestor da RDS do Uatumã.

Após a eclosão dos ovos, os filhotes são levados para os “berçários”, espécies de tanques onde ficam sob os cuidados da comunidade até o endurecimento do casco. A etapa dura cerca de três meses. Só depois disso é que os filhotes são considerados aptos para retornar em segurança à natureza, estando menos vulneráveis aos desafios da vida selvagem.

Esforço comunitário

Todo o projeto é coordenado pela comunitária Iracy Cleide, empreendedora local no ramo do turismo de base comunitária. Ao todo, a atividade reúne 14 famílias da comunidade da Enseada. Para ela, o trabalho é árduo, mas colaborar com o aumento das populações de quelônios na RDS é gratificante.

“Eu me sinto tão feliz e tão honrada por esse trabalho, junto com os comunitários da nossa comunidade, com as pessoas guerreiras que nos ajudam e nos dão força e com a energia que a gente pede de Deus. Isso é muito gratificante, é muito bonito, e o apoio que os órgãos nos dão nos dá força e ânimo para a gente tocar esse trabalho. E eu não quero parar, nós não vamos parar”, ressaltou.

Incentivo ao turismo

A soltura no domingo (25/02) reuniu dezenas de moradores e, pela primeira vez, também levou turistas de fora do Amazonas, como do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e dos Estados Unidos. Para o presidente da Amazonastur, Ian Ribeiro, o turismo de conservação pode alavancar, ainda mais, a atividade de base comunitária.

“O turismo de conservação é um viés a mais, onde as comunidades podem se destacar, trazer uma oportunidade única para o turista, de conhecer algo que ele não teria a possibilidade, nem em outras comunidades, nem onde ele reside. Conversamos com todos eles e eles ficaram encantados com essa experiência. Isso demonstra o potencial que as comunidades ribeirinhas têm para desenvolver o turismo, gerando economia e renda para toda a sua população”, destacou.

Experiência que fez brilhar os olhos da massoterapeuta Camila Peig, de Santa Catarina. “Eu estou muito emocionada com tudo, a energia do local, as pessoas, o que está acontecendo é muito especial, muito forte. É um projeto grandioso, com impacto gigante para toda a população. Com certeza vou trazer minha filha numa próxima vez”, pontuou. 

O engenheiro mecânico André Nishimura, de São Paulo, também esteve presente. “Eu tinha uma expectativa ao chegar aqui e ela está sendo muito superior. É algo que eu recomendo que todos tenham essa vivência do que acontece ‘aqui em cima’. É maravilhoso”, ressaltou.

FOTO: Lucas Silva/Amazonastur

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