Uma das questões de matemática não tem resposta, segundo cursinhos ouvidos pelo g1. Embora o gabarito saia agora, a nota final, que não é apenas a soma dos acertos, só será conhecida no ano que vem.

O gabarito oficial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022 será divulgado às 18h desta quarta-feira (23), informou o ministro da Educação, Victor Godoy, em entrevista coletiva à imprensa nesta segunda (21) para divulgar um balanço do exame.

Uma das perguntas da prova de matemática, aplicada no domingo (20), não tem resposta correta, segundo cursinhos ouvidos pelo g1. Embora o gabarito saia agora, a nota final, que não é simplesmente a soma dos acertos, só será conhecida no ano que vem. Na correção, é usado um método de correção “antichute” para calcular a nota.

Após as altas taxas de abstenção durante a pandemia, o percentual de comparecimento ao exame voltou aos níveis históricos, de acordo com o ministro.

No primeiro dia de prova (13), quando foram aplicadas as provas de linguagens (português, língua estrangeira, artes e educação física) e de ciências humanas (história, geografia, sociologia e filosofia) e a redação, 26,7% dos inscritos não compareceram ao local de aplicação.

Já no segundo domingo, em que foi a vez das provas de matemática e ciências da natureza (física, química e biologia), 31,9% dos inscritos não fizeram o exame.

A versão digital do exame teve taxa de abstenção superior a 50% nos dois dias de prova. Segundo Godoy, isso acontece porque a maioria dos inscritos na categoria estavam isentos do pagamento da inscrição.

“O fato é que o Enem digital ainda não deslanchou. O Inep tem essa missão de buscar de que maneira consegue trazer tecnologia, inovação e atratividade”, disse o ministro.

Quem perdeu o Enem por um motivo justificado, como estar com Covid-19, poderá pedir a reaplicação até sexta-feira (25).

Último Enem do governo Bolsonaro

Este é a última edição do Enem do governo Bolsonaro, que deixa para trás um histórico de polêmicas, com diversas trocas de ministro da Educação e cortes e bloqueios na verba de instituições.

Em 2021, a menos de três semanas da aplicação do Enem, 37 servidores do Inep renunciaram seus cargos na entidade. Em ofício enviado à diretoria do órgão na ocasião, os servidores justificaram a saída pela “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima” do órgão.

Além de mencionarem episódios de assédio moral, expostos em uma assembleia, os servidores também acusaram o órgão de tentar interferir no conteúdo das provas do Enem. Nesta segunda (21), Godoy negou que tenha havido interferência.

“Nunca foi feita nenhuma intervenção, nenhuma interferência na produção [de questões]. É um processo longo que não cabe intervenção ou qualquer interferência, seja do ministro da Educação, do próprio presidente do Inep ou de quem for. Nenhum de nós tem acesso à prova”, declarou o ministro.

Milton Ribeiro, ministro à época da debandada, também teve sua própria cota de polêmicas. Antes de deixar o cargo por acusações de participar de um esquema que negociava verbas públicas com pastores, ele fez diversas afirmações que causaram alvoroço, como quando disse à TV Brasil que a “universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade”.

Na ocasião, ele defendeu que as verdadeiras “vedetes” (protagonistas) do futuro sejam os institutos federais, capazes de formar técnicos.

Enem 2024

Ainda na coletiva desta segunda, foi dito que informações sobre o Novo Enem devem ser divulgadas ainda neste ano. Formato deve ser implementado em 2024.

“A equipe do Inep está trabalhando na elaboração das matrizes do Enem 2024 de acordo com BNCC, mas ainda este ano querem divulgar cronograma do 2023 para pessoas possam se programar com antecedência”, informou Carlos Moreno, presidente da autarquia.

“O Inep já está trabalhando para que o Novo Enem em 2024 já contemple a nova lógica do Novo Ensino Médio, sempre com o objetivo de que o exame seja um exame técnico, científico, moderno”, completou o ministro Victor Godoy.

Considerado a “cara do Enem” por abordar um problema social, o tema da redação “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” foi bem recebido por professores de cursinho, que o consideraram relevante e deram dicas de como abordar a questão.

Em tempos de COP 27 e transição de governo, nas redes sociais, pessoas de diferentes perfis apontaram que o momento atual é oportuno para debater o legado negativo do governo de Jair Bolsonaro (PL) no assunto.

A líder indígena Sônia Guajajara, uma das cotadas para ser ministra dos Povos Originários na futura gestão Lula, resumiu em um tuíte a forma como o tema foi recebido entre os indígenas.

Desde a invasão em 1500 nossos direitos têm sido violados, sobretudo, nos últimos quatro anos onde declaradamente a atual gestão, que já derrotamos nas eleições, executava sua política de extermínio dos povos originários e comunidades tradicionais”, publicou a deputada federal eleita.

Dos quatro itens que constavam como referência para os candidatos na redação, dois foram extraídos do g1. O primeiro era um trecho da reportagem “Gente do campo: descubra quais são os 28 povos e comunidades tradicionais do Brasil” e o segundo era uma adaptação de infográfico de outra reportagem sobre o mesmo assunto, cujo título era: 650 mil famílias se declaram ‘povos tradicionais’ no Brasil; conheça os kalungas, do maior quilombo do país”.

Quanto às provas, os docentes avaliaram que trouxeram temas relevantes e atuais, foram fundamentados em muita “leitura e contextualização” e acabou honrando a tradição do exame.

Segundo dia do Enem 2022

O segundo dia de provas, com matemática e ciências da natureza (biologia, física e química), foi considerado “trabalhoso” e “conteudista”, com formato mais similar às provas da Fuvest e da Unicamp, segundo cursinhos. Eles observaram que o exame trouxe muita contextualização do dia a dia, mas sem questões polêmicas.

“É uma prova que vai ser um pouco mais trabalhosa para os alunos porque não tem a conta pela conta, não tem o conteúdo pelo conteúdo”, avalio Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo.

Questão sem resposta

Uma das questões da prova de matemática, no entanto, não apresentou uma resposta correta entre as alternativas por um erro de digitação, segundo cursinhos ouvidos pelo g1. O item aparece como 141 na prova rosa175 na prova amarela e 157 nas provas cinza e azul.

A questão pedia para que o estudante apontasse qual “expressão algébrica” representava a composição do salário de um vendedor. No enunciado, o item da prova explicava que o funcionário tem um salário formado por uma parcela fixa e também um percentual sobre as vendas.

Procurado, o Inep, responsável pelo exame, não havia dado retorno até a última atualização desta reportagem.

Ansiedade

Antes das provas, os candidatos se divertiram com memes nas redes sociais e na porta do exame. A pedido do g1, estudantes escolheram a imagem com o meme que, na opinião deles, resumisse o clima no segundo dia de provas.

Em Goiás, as gêmeas Lara e Lana Cunha, de 18 anos, estavam esperançosas com o exame. As jovens querem cursar psicologia e fizeram a prova pela primeira vez neste ano. No Pará, muitos candidatos, prevenidos, chegaram cedo para não perder o horário e levaram mais de uma caneta, além da tradicional garrafinha de água e lanche. E houve até quem levasse toalha e papel higiênico.

No entanto, assim como em outros anos, teve gente que ficou do lado de fora. No Ceará, no primeiro dia de prova, a estudante Sarah Vivian Gomes até chegou ao local antes do fechamento dos portões, mas saiu para fumar e, quando tentou voltar, às 13h, os encontrou fechados.

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