Daniel Bogado, diretor de “Bandidos na TV”, fala das primeiras reações à série

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Já fazia dois anos que eu havia começado a trabalhar em “Bandidos na TV” (em inglês, “Killer Ratings”) quando a série estreou. Houve um período de pesquisa que levou vários meses; mais alguns meses de filmagens; e o período de edição que levou mais de um ano.

Foi um trabalho difícil, produzindo 7 episódios simultaneamente em uma história muito complexa. Envolveu o trabalho de editores, produtores e produtores executivos – entre eles, a talentosa e renomada editora brasileira Lívia Serpa, e a diretora Suemay Oram, que trabalhou em toda a série e dirigiu vários episódios.

Estávamos todos coordenando a elaboração de uma narrativa de uma forma que fosse impactante, emocional e, o mais importante de tudo, clara. Não foi uma tarefa fácil. O caso Wallace envolveu processos judiciais volumosos, centenas de testemunhas, milhares de páginas de depoimentos e incontáveis horas de arquivo de vídeo.

A história que contávamos envolvia um período de quase duas décadas, e o próprio escândalo durou 18 meses, época em que aconteciam reviravoltas quase todos os dias. Então, tivemos que selecionar cuidadosamente quais partes da história eram mais importantes para contar, como faríamos a edição e como tudo se conectaria em uma narrativa coerente.

“Uma história muito especial”

 

Tivemos que coordenar nosso trabalho atentamente, porque as decisões tomadas sobre o que seria incluído em um episódio afetariam o que acontecia nos outros episódios. Tínhamos reuniões constantes para discutir a história. Durante essas reuniões, era difícil mantê-las curtas.

Porque uma vez que começávamos a falar sobre o caso, sobre os personagens, as reviravoltas, as contradições, sobre quem estava mentindo e quem estava falando a verdade, sobre a forma como alguns eventos se conectavam com os outros e as múltiplas teorias sobre o que realmente aconteceu, nós poderíamos passar o dia inteiro apenas debatendo sem fazer nenhum trabalho. Nós éramos todos obcecados.

Então, começamos a perceber que estávamos trabalhando em uma história que era algo muito especial. Havia uma sensação de excitação no ar. E, enquanto estávamos fazendo todo esse trabalho, a grande questão em minha mente era se as pessoas no Brasil todo ficariam tão cativadas pela história quanto nós.

Quando você trabalha em um documentário, você nunca sabe como o público reagirá. Você pode suspeitar que o projeto será bem-sucedido, você espera que seja, mas nunca sabe realmente. Você só descobre depois da estreia, quando o público assiste a série pela primeira vez. E a verdade é: absolutamente qualquer coisa pode acontecer.

“Enorme alívio e felicidade”

 

Então, no dia da estreia, todos nós, que trabalhamos no projeto ansiosamente, analisamos o que as redes sociais, particularmente o Twitter, diziam. Começou um pouco devagar naquele dia, mas depois de alguns dias estávamos vendo mais e mais mensagens positivas, entusiasmadas, às vezes absolutamente delirantes de pessoas que disseram que amaram a série.

Muitos elogiaram a imparcialidade do jornalismo e a maneira como compartilhamos os dois lados da história. Outros amaram a edição, a fotografia, a trilha sonora. Muitos disseram que começaram a assistir ao primeiro episódio e não puderam parar até chegar ao fim – que era exatamente o que queríamos. Aquilo foi um enorme alívio para nós e nos deixou muito felizes. A história era mesmo boa, não estávamos imaginando isso.

Esta é a primeira série documental original que a Netflix encomendou em uma língua estrangeira, em toda a sua história. Sentimos uma grande responsabilidade em garantir que fosse uma boa série.

Dessa forma, abriria a porta para outros cineastas no Brasil (e no resto do mundo) para contar outras histórias extraordinárias como séries documentais em sua própria língua. Quanto à nossa série, estamos felizes e otimistas de que “Bandidos na TV” continuará a encontrar e cativar um público cada vez maior.

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