Considerado prevenível, câncer de pênis levou 5,8 mil homens à amputação do órgão genital, em 10 anos

Doutor em saúde pública, Figliuolo destaca que o câncer de pênis é considerado raro

0
9

Um dado alarmante, divulgado pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), aponta que 5.851 homens perderam os pênis, entre 2015 e novembro de 2024, em decorrência do câncer no órgão genital, uma média de 580 ao ano.

Uma triste estatística, considerando que a doença pode ser prevenida com medidas simples, como uma boa higiene, a adesão à vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano) e o uso do preservativo durante as relações sexuais, além de muita informação, explica o presidente da seccional amazonense da entidade, cirurgião uro-oncologista Giuseppe Figliuolo.

Doutor em saúde pública, Figliuolo destaca que o câncer de pênis é considerado raro. “Por isso, a falta de informação acaba levando muitos homens à mesa de cirurgia, após negligenciarem, por exemplo, sinais como feridas persistentes no pênis, que acabam evoluindo de lesão precursora, para o câncer, reduzindo as chances de um tratamento menos invasivo. A vergonha e o medo de procurar o médico também pesam na hora de decidir procurar ajuda especializada”, explicou.

A SBU apontou, com base em dados do Ministério da Saúde, que 22,2 mil internações foram registradas nos últimos dez anos, em decorrência do câncer de pênis, uma média de 2,2 mil ao ano. O número de mortes também é considerado alto: 4.502 entre 2014 e 2023, uma média de 450 ao ano.

Com maior incidência na faixa-etária de 50 anos ou mais, o câncer de pênis tem como principais fatores de risco a higiene inadequada do órgão genital, a fimose (que viabiliza o acúmulo de esmegma – secreção – entre o prepúcio e a glande) e as lesões causadas pelo HPV – vírus transmitido através do sexo sem preservativo – , além do tabagismo.

No caso da fimose, a correção cirúrgica, ainda na infância, pode ajudar a prevenir o câncer de pênis. O mesmo serve para a adesão à vacina contra o HPV, que é ofertada gratuitamente na rede pública, a meninos e meninas em idade escolar.

Sinais e tratamento

“Os principais sinais do câncer de pênis são feridas que não cicatrizam, sangramento, dor persistente, mudança na cor e na textura da pele que recobre o pênis e o aparecimento de nódulos”, destacou o especialista, que atua na Urocentro Manaus.

Segundo Figliuolo, é importante esclarecer que nem sempre a amputação é a escolha de tratamento para o câncer de pênis. “Se a lesão é detectada na fase inicial, as chances de cura são grandes, mesmo sem cirurgia. A quimioterapia e a radioterapia podem ser usadas como terapia. A amputação se dá apenas em casos mais graves, quando a doença já está suficientemente disseminada, ao ponto de não haver outra alternativa. Por isso, é essencial procurar um médico urologista em caso de alteração”, explicou.

O especialista também destaca que, quanto mais invasivo é o tratamento, maiores as chances de envolver também o fator psicológico. “O apoio multidisciplinar, para pacientes que enfrentam o câncer, em geral, é extremamente relevante, pois ajuda no equilíbrio e no enfrentamento à doença, que é tão estigmatizada”, frisou.

Educação e pesquisa

Figliuolo também lembrou que campanhas educativas e políticas públicas devem ser consideradas no processo de mudança da estatística do câncer. “Um atendimento rápido, eficaz, com um leque de terapias disponíveis e protocolos atualizados, devem fazer parte dos debates entre autoridades do setor, já que a saúde do homem vem ganhando os holofotes com mais força nos últimos anos e muitas dúvidas sobre o que fazer e quem procurar na hora de pedir ajuda, acabam surgindo”, destacou o especialista, que é pesquisador do tema há mais de uma década.

“As características regionais socioeconômicas também são importantes e ajudam a balizar pesquisas que podem contribuir com a expansão da oferta de atendimento e abordagens educativas. Por isso, vale destacar que os investimentos em pesquisas devem ser tratados como prioridade na saúde”, avaliou.

Foto: Reprodução

Deixe uma reposta

Por favor deixe seu comentário
Digite seu nome